Entrevista: Vinícius Dônola e as histórias das histórias que contou
- Gustavo Tamagno Martins
- 9 de jan. de 2021
- 7 min de leitura
Atualizado: 18 de mar. de 2021
Com mais de 30 anos de carreira em emissoras como a Rede Globo e a Record TV, o jornalista conta sobre sua trajetória e seus novos projetos

No dia em que o homem pisou na Lua, o jornalista Vinícius Rosada Dônola chegou à Terra. Mais especificamente no dia 20 de julho de 1969, na cidade de Rio Claro (SP). Desde muito cedo, sempre mostrou o seu talento no jornalismo. Aos 17 anos fez a sua primeira reportagem para a extinta Rede Manchete de Televisão e aos 20 mudou-se para Portugal, onde se graduou Bacharel em Comunicação Social pela Escola Superior de Jornalismo do Porto.
“Sorte do Brasil ter um repórter da excelência de Vinícius Dônola a serviço da causa de informar”, já diria Pedro Bial sobre o paulistano de nascença e carioca de coração que, por 14 anos, foi repórter especial da Central Globo de Jornalismo, no Rio de Janeiro e trabalhou como correspondente da Record TV em Nova York.

Ao longo de sua carreira de mais de 30 anos dedicados a produzir reportagens para a televisão, Dônola ganhou importantes prêmios do meio jornalístico, entre eles, o Prêmio Tim Lopes e o Prêmio Vladimir Herzog. Seu rosto já familiar pelo público brasileiro está fora da TV desde 2018, quando decidiu partir para novos projetos.
Histórias das Histórias que Contei
Um dos motivos pelo seu afastamento das telinhas foi o de escrever e publicar o seu livro “Histórias das Histórias que Contei” pela Editora Intrínseca. O jornalista decidiu que havia chegado a hora de compartilhar os bastidores das histórias que já contou. A obra narra os bastidores de uma breve seleção das mais de mil matérias que ele apresentou ao longo de sua carreira.

No livro, Dônola relembra alguns dos seus trabalhos mais marcantes e faz o leitor sentir na pele o exercício de uma profissão que, em nome do compromisso com a informação, acaba muitas vezes expondo seus profissionais a situações perigosas, além de salientar casos que passariam despercebidos do público sem o olhar jornalístico.
Entre os casos mais marcantes estão a premiada denúncia sobre a execução de um fugitivo pela polícia, à luz do dia, em frente a um movimentado shopping carioca na década de 1990, e uma descoberta sobre a arma utilizada no assassinato da vereadora Marielle Franco.
Seja no ar, na água ou na terra, o prestigiado repórter já ousou de tudo para levar a melhor reportagem ao telespectador. Vinícius Dônola já precisou escalar o Mont Blanc – um maciço rochoso nos Alpes entre a Itália e a França com mais de 4 mil metros de altitude – para uma reportagem do Jornal Hoje. Já decolou no Tucano da Esquadrilha da Fumaça para o Fantástico e esteve rodeado de tubarões no Arquipélago das Bahamas para o Domingo Espetacular. E pelo Jornal da Record colocou no ar, pela primeira vez, imagens do interior do presídio Bangu 1.
O jornalista chegou a entrevistar o cantor Roberto Carlos, o ídolo de sua mãe. Na foto que enviou para a sua genitora ainda escreveu: “Quem disse que não cabem dois homens no coração de uma mulher? Ele é o Rei, mas nada se compara à minha coroa!”. Dônola, inclusive, esteve gravando aqui pelo Rio Grande do Sul. Se tratava de uma reportagem para o Globo Repórter sobre a dona Anna Variani, de 94 anos, e seu fusquinha. A idosa de Bento Gonçalves (RS), ficou famosa após a matéria e chegou a aparecer também no Fantástico e no Programa do Jô.
Em 2002, o governo anunciou um serviço gratuito de fertilização in vitro e inseminação artificial que contemplaria até 80 casais por mês. Cinco anos após a notícia, o repórter e a equipe marcaram um encontro com uma das mulheres que havia entrado na fila naquela ocasião, mas que assim como os outros 299 inscritos, nunca fora chamada. A história de dona Naílde mexeu tanto com ele, que conversou com um colega médico para arcar com os custos do tratamento da mulher de 36 anos. Algumas tentativas depois, Nailde deu a luz a um menino, batizado João Vinícius em homenagem ao médico e ao jornalista.

No evento de lançamento do seu livro, em outubro de 2019 no Rio de Janeiro, o jornalista se emocionou ao conhecer João Vinícius, o menino de 11 anos “nascido da reportagem”, segundo título do capítulo que narra a história em sua obra.
Novos Projetos
Além da publicação do livro, Vinícius está mediando um curso online ensinando a produzir conteúdo audiovisual para diferentes mídias e técnicas para produção de pautas, gravação de matérias, locução, construção de roteiros e edição.
Vinícius Dônola tem investido em projeto audiovisual na web, até mesmo no YouTube. Imagem: YouTube, reprodução
São 32 videoaulas com cerca de 6 horas de duração, onde o jornalista mostra o passo-a-passo da construção de uma notícia, além de transmitir o diferencial entre outros produtores de conteúdo que desconhecem os caminhos a seguir – e a não seguir – na rotina de um jornalista.
Com o objetivo de atingir o máximo de jornalistas e estudantes e gerar um grande impacto em suas carreiras, há uma campanha especial de lançamento do curso com parcelamento em cartão de crédito ou à vista no boleto bancário. Mais informações podem ser obtidas no site https://viniciusdonola.com/. Dônola tem investido também em projeto audiovisual na web, por meio do canal de YouTube.
Entrevista
O jornalista nos concedeu uma entrevista e contou um pouco sobre as inspirações que o levaram a uma renomada trajetória jornalística. Além disso, Vinícius fala sobre os desafios do “novo jornalista”.
Primeiramente, Vinícius por que o Jornalismo?
– Vinícius Dônola: Foi uma escolha aos 48 minutos do segundo tempo, depois de um teste vocacional na escola em que eu prestava meu último ano do Ensino Médio. Eu estava na dúvida entre várias áreas. A opção pelo Jornalismo foi alguns meses antes do vestibular, e acho que eu acertei.
Ao longo de sua carreira de mais de 30 anos e que ganhou ainda mais prestígio pela conquista de importantes prêmios do meio jornalístico, qual o maior desafio que já enfrentou?
– Vinícius Dônola: Os desafios são imensos em trinta anos de profissão, cada reportagem é um desafio. Mas o desafio da correspondência internacional, dois anos em Nova York, foi sem dúvida, uma das partes da minha carreira mais incríveis e mais emocionantes e que mais transformaram a minha carreira, para melhor.
Em 2018 decidiu que se afastaria da TV, mesmo sendo um rosto já conhecido pelo público brasileiro por sua passagem em grandes emissoras. O que te levou a essa decisão? Já pensava neste afastamento há algum tempo?
– Vinícius Dônola: Sim, eu já planejava esse período para fazer o lançamento do meu livro “Histórias das Histórias que Contei” pela Editora Intrínseca, para dirigir um documentário sobre o Museu Nacional, que venho fazendo há mais de um ano e meio, e para lançar um infoproduto, o “Curso de Sobrevivência do Novo Jornalista”.
Quais as suas maiores inspirações?
– Vinícius Dônola: As inspirações são várias. Eu tive a honra de trabalhar pertinho delas e ser amigo de muitas das minhas referências. Eu seria muito injusto se citasse alguns nomes esquecendo de outros que são para mim muito importantes. Nomes como Pedro Bial, Caco Barcellos, Ernesto Paglia, eu não teria como esquecer neste momento.
Um jornalista, um livro e uma frase.
– Vinícius Dônola: Um jornalista, Gay Talese. Um livro de Gay Talese, “Fama e Anonimato”. Uma frase: “cobra que não se mexe, não engole sapo”.
Sendo um jornalista que já vivenciou inúmeras situações, inclusive que te expuseram a perigos, como você lida com a associação: lado profissional-lado humano? Você procura deixar de lado as suas emoções ou acredita que não há controle sobre essa interferência pessoal nos trabalhos jornalísticos?
– Vinicíus Dônola: Não, se eu blindar as minhas emoções eu não capto o que sinto e não passo portanto o que sinto. A minha opção é por não me blindar, ainda que eu sofra mais com isso.
Como nasceu a ideia para o livro “Histórias das Histórias que Contei”?
– Vinícius Dônola: Sempre fui cobrado nas minhas palestras e pelos meus colegas de trabalho a respeito da publicação de um livro. Sempre fui cobrado por isso. “Por que você não coloca no papel tantas histórias que você tem para contar?”. E quando sentei para escrever, de fato, eu vi que a grande dificuldade não era escrever mas selecionar as melhores histórias entre tantas contadas em mais de 30 anos.
Quais as suas principais dicas para quem deseja ingressar ou até mesmo está iniciando na carreira jornalística?
– Vinícius Dônola: A minha dica é entenda o que é storytelling, entenda o que é contação de histórias, o que é construir uma narrativa com começo, meio e fim. Eu acho que é o básico para quem está começando, a entender o conceito de storytelling.
Entre os seus novos projetos (canal no YouTube, Podcasts, redes sociais), está a mentoria de um curso online denominado “O Curso de Sobrevivência do Jornalista Moderno”. Em poucas palavras – até mesmo para não dar spoiler das suas aulas – quais as principais características que o mercado exige do novo jornalista?
– Vinícius Dônola: O jornalista tem que ser um profissional multitarefas, adaptado para trabalhar num cenário de múltiplas plataformas e agora com a ressignificação do jornalismo, instigada pela pandemia, um profissional capacitado para produção e disseminação de conteúdo de forma remota.
Por fim, e não menos importante, quem é Vinícius Dônola para você?
– Vinícius Dônola: Vinícius Dônola para mim é um jornalista que não abre mão dos seus princípios éticos na produção de conteúdo. Absolutamente inflexível. E que acredita que a informação de qualidade é uma ferramenta importantíssima para a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual.
Para concluir, me utilizo novamente das palavras de Pedro Bial: “você não compraria um carro usado de Vinícius Dônola. Compraria toda a frota de segunda mão. A fisionomia dele comprova Lombroso ao contrário – sua honestidade, integridade, coragem e transparência estão ali, na cara. Essas são virtudes que não se aprendem em escola nenhuma de jornalismo; ou o sujeito tem caráter, curiosidade genuína e compaixão pelo outro, ou não”.
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